"Obrigada pela proposta, João, mas não vou mais precisar: o trabalho de tradução já foi entregue. Talvez um ou dois retoques. Obrigadíssimo.
Só queria te dizer, por hoje, uma coisa a mais, já que aceitou me ouvir, e responder ao recado meu de ontem.
Quando Outros Brasis, por exemplo, decidem me mandar, como é o caso hoje, 24 de outubro, informações sobre horários de projecções do filme Hautes Terres,
com a metade das datas de projecção em Paris, e em Caen, minha cidade natal, já passadas: todas as datas da semana passada,
e quando este processo acontece dez anos a fio, qualquer que seja a rede social ( que aliás só se decidiu a me incluir a partir de junho 2014, por intermédio de você),
claro que você, no caso eu, não só não encontro mais ninguém, mais de fato fica vivendo uma braba exclusão invisível, que não se diz mas corre anos a fio...
Apartheid em Paris. Isto se chama segregação. E a consequência é aquilo que vivi este começo de semana, quando te chamei. E que você presenciou.
Pois, pra quem observa as minhas entradas e saidas de casa, há anos (moro do lado da delegacia), sabe muito bem que, apesar de querer contatos, de ser gente boa, de me ter deslocado por tudo que é canto, em Paris, sou dependente de aqueles que há mais de dez anos atrás, por razões suas, não sei se morais, políticas ou fajutas, me excluir definitivamente de toda convivência brasileira, e do resto, inclusive parisiense...,
E conseguiram tão bém que hoje qualquer "truand" pode querer a minha pele, pois sabe que ninguém vai pintar por aí ....
Isso se chama abandono planejado. Segregação. E ninguém pode vir dizer nesse lapso de tempo que quis me afastar e ficar sozinha: todo o contrário. Os outros que decidiram me eliminar de todo convivio !
Mas mesmo assim, nunca pedi esmola pra ninguém. Nem vou...
Mas que fere, um dia como hoje, saber que até Christiane Taubira tentou entrar em contato e me chamou, e que gente malintencionada interferiu pra eu não encontrá-la, enquanto a minha luta há dez anos, é a da JUSTICA SOCIAL ( inclusive restituição do meu trabalho, reconhecimento do meu valor profissional), mas também restituição da minha dignidade como pessoa humana, e de meus direitos a trabalho, convivio, e até alegria a dividir com outros...
Isso não tem mais nada a ver com sociedade cruel, mas tudo a ver com regime policial introjetado nas pessoas pelas quais, nunca mais, e em nada, você vai ter mais, e ainda, direito de partilhar convívio humano !!!
A ferida é total hoje de manhã. Quando me dou conta que tudo continua como dantes...
- "Olà tudo bem", e cada um passa pra outra. Porque muita gente nesta cidade, e no Brasil, deixou acontecer o pior, e não quer mais encarar o que deixou fazer, pro mais de doze anos: algo totalmente desumano...
E pelo viso, continua organizando "inconscientemente"( ?) a minha exclusão social...
Quantos dias já tive vontade, como um Primo Levi ou outro desesperado de ter vivido nos campos de concentração, decidir pôr fim a sua vida...
Nunca fiz, nunca vou fazer. Mas quantas vezes atravessei esse desespero...
Porque, afinal, não há nada que justifique que você não possa mais compartilhar com os outros o teu simples desejo de viver, se alegrar, e mandar brasa na vida...
Abraços,
Marie Christine